quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Um golinho a mais no pão nosso de cada dia

Lembra quando falei sobre sua necessidade de consumo ser maior que sua renda? Agora é a hora de mexer neste vespeiro.

Assalariados. Mais renda para um assalariado significa ser promovido. E isso passa inevitavelmente por capacitação. Todos nós somos competentes para algumas coisas e incompetentes para outras, e não dá pra aprimorar todas as habilidades ao mesmo tempo agora. De fato, há algumas delas (como gestão de pessoas) que necessitam anos e anos de bagagem para se chegar a um nível razoável. Então o melhor a fazer é escolher adequadamente em que se qualificar. Pense onde quer chegar, o que gosta de fazer, oportunidades periféricas à sua área, e mãos à obra.

Nos primeiros anos de carreira é importante qualificar-se tecnicamente. A faculdade dá uma base importante e insuficiente para competir no mercado de trabalho. Mas cuidado para não pular para a pós-graduação, é melhor amadurecer profissionalmente antes de ingressar em um curso assim. Existente diversas formas de se aprimorar: cursos online, cursos presenciais de curta duração, livros. As que pra mim são indispensáveis são a prática e um bom coach.

Segundo Malcom Gladwell em seu livro Outliers, uma pessoa comum leva 10 mil horas de prática para dominar uma competência. Isso dá mais ou menso 7 anos de trabalho, considerando 8 horas diárias. De uma única. Faça as experiências contarem, e  não deixe-as passarem por vc; passe por elas. Tenha um papel ativo. Boas experiências vão gerar um sumo no seu reservatório intelectoemocional chamado feeling. Em algus anos este será seu maior ativo, e razão da sua eficiência.

Tive a felicidade de trabalhar com grande profissionais por onde passei, e isso foi rico demais. Tente entender a visão da pessoa, como ela se comporta em momentos de crise, em altos e baixos, como se relaciona com os outros. E, se tiver a oportunidade, peça que o mentore ativamente. Nada como aprender com quem sabe.

Quando achar que for o momento de uma promoção, expresse claramente à empresa. Não espere um convite cair do ceu. Mas lembre-se: antes de ter, vc precisa ser. Dificilmente alguém lhe promoverá se já não estiver agindo como alguém que ocupa uma posição acima.

Empreendores. Como minha experiência relevante neste campo resume-se ao empreendedorismo coporativo, que aplico como funcionário dentro da empresa, vou pular essa parte. Mas existe uma infinidade de livros, artigos, palestras e temas a respeito. O que me vem na cabeça de imediato é o meusucesso.com, um EAD com foco em cases de empreendedores brasileiros de sucesso, como Chilli Beans, Fogo de Chão, China in Box, Wizard etc. Se quiser relatar suas próprias experiências nos comentários, be my guest!


Atividade secundária. Não se restrinja à sua ocupação principal. Algumas profissões facilitam a prática de freelancing, como jornalistas, designers, profissionais de tecnologia, e consultores de diversas áreas técnicas. Na área da saúde vc pode dar plantões ou fazer turnos complementares.

Unir o útil ao agradável  pode ser uma boa: adapte um hobby, tornando-o uma atividade econômica. Um bom exemplo são food trucks, que dão vazão a quem se expressa e se inspira através da gastronomia e demandam baixo investimento, especialmente se não quiser escalar muito o negócio. Artesanato e banda de música são outros exemplos na mesma linha. Quando comecei minha carreira trabalhava em agência de publicidade e nos finais de semana que tinha livre (os raros) trabalhava de barman em baladas. Não pagava pra entrar, não pagava pra beber, me divertia pra caramba e saía com um trocado no final da noite.

Investimentos. Já discorremos muito sobre este tema (veja mais aqui) e minha recomendação é que vc retroalimente seus investimentos, mas se estiver passando por um momento de vida  que exija, vc pode separar o que ordenha com investimentos para complementar sua renda.


Estas são algumas formas que lembrei. Deve ter alguma que passou batida, então me ajude com exemplos nos comentários!


Confira os artigos anteriores:

O dinheiro é um ótimo empregado

Como as pessoas ficam ricas? Há 2, e apenas 2 opções: ou elas tem um salto em sua renda mensal de proporções astronômicas ou elas utilizam parte do que ganham para gerar mais riqueza - o famoso "fazer o dinheiro trabalhar pra vc", ou ambos.

As ciladas. O método de poupar dinheiro mais conhecido no Brasil é a poupança, e é ruim pra caramba, por um motivo muito simples: o que vc ganha em um ano em uma poupança geralmente (por exemplo nos últimos 20 anos) é menor que a inflação. Isso significa que, mesmo vc tendo um valor maior em R$ na conta, aquela quantia comparará uma quantia menor de bens e serviços. Ou seja, vc está perdendo, e não ganhando. Como um número de referência, e apenas isso, pense em retirar de 4% a 8% ao ano descontados impostos e inflação (em 2015 a poupança te renderia -5%!). Tem um caso em que a poupança pode ser útil: quando vc não tem certeza se usará o dinheiro nos próximos 2 ou 3 meses.

Outras roubadas são plano de previdência ou carta de crédito. Esses modelos são financeiramente pouco recompensadores e se baseiam na falta de habilidade das pessoas em poupar e investir. Não deixa a falta de disciplina roubar seu quinhão.

Mundos e fundos. Se vc não precisa de liquidez (sacar e usar o dinheiro quando bem entender) e pode deixar seu dinheiro aplicado por 1 ano ou mais, há diversas opções muito mais rentáveis e bastante seguras, com risco próximo de zero. E eles funcionam tipo a poupança mesmo. É uma conta que vc vai deixar seu dinheiro e todo mês o valor da conta cresce com base na rentabilidade do fundo.  Alguns dos exemplos mais comuns são o CDI, LCI e o tesouro direto, mas como o mercado flutua bastante o mais recomendado é que vc pesquise a melhor relação custo-benefício quando for investir.

Comece pesquisando pela internet mesmo, tem veículos sólidos como a Folha e a Exame com matérias a serem garimpadas. Ou se vc for old school pode comprar uma publicação especial sobre o tema nas bancas, ou ler um livro do Warren Buffet. Converse bastante também com amigos que praticam investimento, com o gerente do seu banco e quem mais do seu círculo de relações tiver essa pegada.

O próximo degrau é diversificar os tipos de investimento com maior e menor risco. Basicamente vc vai escolher entre fundos diferentes, cada um com seu retorno e risco. Mais uma vez, estude. O que eu considero como última etapa é investir na bolsa de valores. Vc vai precisar de um intermediador (o broker) pra comprar e vender ações de empresas. É um terreno mais instável, pois a flutuação ocorre no microcosmos das empresas, e por isso as pessoas comumente se sentem inseguras. Eu acho que a insegurança é mais psicológica que estatística, mas o psicológico conta nisso também.

Imóveis. Outra opção é investir em imóveis e também será necessário pesquisar bastante. Além das opções óbvias, como comprar um terreno, vc pode comprar um apartamento residencial na planta e revender pronto, adquirir salas comerciais ou quartos de hotel. Se quiser dar um passo além pode também comprar um terreno,  construir uma casa e vendê-la. Comprei minha casa atual de uma pessoa que fez isso, e o negócio foi bom para ambos lados (o vendedor conseguiu quase triplicar o seu investimento em 3 anos).

O mercado imobiliário oscila, mas como o espaço terrestre só diminui, é um ativo que invariavelmente se valorizará (a não ser que as colônias extraplanetarias revolucionem este mercado, mas eu ainda acho que os terrenos aqui na Terra serão premium).


Venture. Talvez a mais arriscada forma de investir, mas com certeza a mais gratificante, é em empresas em formação. Significa investir em uma ideia, em pessoas, e muito provavelmente em valor pra sociedade. Pode ser o empreendimento de um conhecido que vc confia, de desconhecidos que vc aposta e até mesmo - pq não? - em uma ideia própria.

Vc precisará de métodos de avaliação do potencial da empresa, mas tudo se resume em 2 perguntas: 1-A ideia terá aceitação no mercado? 2-As pessoas à frente do negócio tem capacidade e energia para executar a ideia?

Geralmente investidores se envolvem no alto nível da gestão da empresa, o que é um plus, pois cuidar de um negócio é divertido, especialmente se nem todos os seus ovos estão nessa cesta.

Just do it. Planeje bem para fazer a opção mais adequada, mas não deixe de fazer. Comece pequeno mesmo. Com R$ 10 mil vc já consegue investir em diversos fundos ou iniciativas. Pula sem medo, que a água tá quentinha.

Viver de renda. A previdência brasileira está em colapso, e imagino que em 30 ou 40 anos, quando minha geração se aposentar, as regras de previdência social estarão bem mais rígidas (se Deus quiser, e sangue de Jesus tem poder). Então não conte com a aposentadoria estatal; crie sua própria aposentadoria.

É muito simples fazer essa conta. Calcule quanto sua família precisa para viver com modéstia; este valor deve ser 10% do seu patrimônio, e vc gerará anualmente. Portanto, se sua necessidade anual é de R$ 50.000, vc precisará de um patrimônio líquido de R$ 500.000. Exclua da conta carros, a casa que mora ou outros ativos dos quais não conseguirá gerar renda contínua. E, mais importante, até lá vc já deve ter adquirido expertise em investimentos o suficiente para extrair estes 10% anuais, que não são exatamente um passeio no parque, mas são absolutamente factíveis.

Quanto mais cedo na vida vc conseguir isso, melhor. Vc terá muito mais segurança para enfrentar possíveis turbulências que impactem sua renda, como a perda de um emprego ou a falência de sua empresa. E acredite, mais cedo ou mais tarde essas turbulências acontecem.
Investimento precisa de combustível. Com a internet, a facilidade de aprendizagem, os financiamentos coletivos, o microcrédito, a mão de obra e mercado consumidor globais, e muitas outras  possibilidades, ter apenas uma origem de renda é dormir no ponto. Vamos elocubrar sobre no próximo artigo.


Confira o próximo artigo:

E os anteriores:

Dissecando o padrão de vida

Sair da faculdade e começar a ganhar nosso próprio dinheiro geralmente coincide com nosso amadurecimento pessoal, e nossa busca por um estilo de vida mais sofisticado. Um vinho tem que ser bebido em uma taça (e não mais em qualuqer recipiente, inclusive xícaras) e de preferência de boa qualidade (agora vc sabe diferenciar). Viver com um miojo por refeição 2 vezes ao dia e um pufe de um só lugar como sofá já não rola mais. Se depois de começar a trabalhar vc ainda vive assim, tenho certeza que quer mudar de padrão o quanto antes.

Com esse contexto e com a escala profissional e financeira, é comum adquirimos gastos que antes não tínhamos e aumentar a qualidade dos serviços e produtos, deixando toda a estrutura de custos pessoais mais caras. Vc não tem mais o mesmo tempo, então a academia tem que ter vestiário, e por isso custa mais. Além disso nosso espectro de vida muda, e começa a ficar feio não dar presentes de casamento, e vc quer casar, comprar casa, e essas coisas são caras.

Após um tempo nos acostumamos com estes gastos e as comodidades que estes trazem, e é aí que a coisa fica perigosa.

Tenha uma mente econômica. Isso significa que vc deve cortar tudo que não é necessário. Ao invés de "proteger" seus confortos, olhe a eles com um critério severo. Comece do mais básico para o mais supérfluo e questione cada linha de custo. Vc precisa mesmo de funcionária doméstica todos os dias da semana? Vc está indo à academia? Aquelas 160 canais HD servem pra que mesmo? Aplique isso a tudo.

Procure substituir o ótimo e caro pelo bom e barato. Isso lhe custará um tempo de pesquisa, mas vale muito a pena. Alguns exemplos de quais custos vc pode baixar: busque referências de serviços de reparo da casa para não pagar um encanador caro e que não vai resolver seu problema; componha seu guarda-roupa com peças de marcas mais caras e outras médias mas de boa qualidade; procure comer ao menos 2 refeições em casa por dia (ou leve um lanche para o trabalho);  assuma algumas tarefas domésticas e reduza os dias da diarista; procure meios alternativos de hospedagem em viajens internacionais, como o Air BnB e albergues; se vc é casado, veja se ter apenas um carro é suficiente para as atividades da família, ou, se é solteiro, veja se precisa mesmo de um carro.

Algumas vezes estes cortes não vão valer a pena, pois vão te tomar um tempo e energia preciosos, que vc poderia estar empregando em um projeto pessoal ou em se desenvolver profissionalmente. Pondere bem a respeito.

Se viver fazendo este exercício e sem a máxima qualidade em cada produto e serviço lhe parecem um estilo de vida desanimador, aí vc simplesmente terá que ganhar mais. Há várias formas de fazer isso, mas este não é o tema central deste artigo. Mas vou dar um dica: segunda a FGV, cada ano de estudo corresponde ao aumento de 10% em um salário.

Reflita se o que tem valor para os outros tem de fato valor pra vc. Casamento, paternidade, e outras atividades geraram mercados que oferecem serviços de alta qualidade e opções, mas será que vc precisa de todos eles? Ultimamente tem sido moda viajar a Miami para fazer o enxoval do bebê. É maravilhoso que as pessoas possam unir o útil ao agradável dessa forma, mas uma viagem a Miami tem um gasto razoável, mesmo que a viajem versus a economia das compras do bebê fique "elas por elas". Será que vc precisa de uma festa de arromba de casamento ou uma cerimônia mais simples com um brinde e almoço em família é o suficiente? Viajar todo ano é realmente um sonho seu ou uma área de leve interesse pelas boas experiências que seus amigos tem contado? Pense sobre o que realmente lhe satisfaça, e não ligue para o padrão dos outros.


Não associe o aumento de renda ao aumento do padrão de vida. Quando recebemos uma boa notícia sobre uma promoção, um contrato, ou qualquer tipo de aumento de renda, mergulhamos em um tobogã de possibilidades do que fazer com a nova renda. É uma varição curiosa da fantasia "como gastaria o dinheiro se ganhasse na loto", pq a quantia é bem menor, mas é real. Celebre essa conquista com os amigos e a família, é um ritual importante, mas considere outras opções, como investir e poupar. Os brasileiros não tem a cultura do patrimônio, e por isso muito poucas pessoas consideram essa possibilidade quando tem uma folga no orçamento. Por que isso pode ser tão empolgante quanto comprar um carro novo? Veja no próximo artigo.



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